sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Bem me quer, malmequer...

Milhares de gotículas espelhavam, cintilantes, o seu sorriso rasgado. Foi então que levantei o meu olhar, que, antes pousado naquele ofertado malmequer envolto em orvalho, procurava agora a origem da imagem que as gotículas reflectiam. E ali estava ele. Tão imóvel e tão perfeito, tão único; talhado somente para mim. Olhava-me, com um doce sorriso esboçado nos lábios... como era doce e sincero aquele sorriso! Delineei, com o olhar, os traços perfeitos do seu rosto de porcelana, que, banhado pelo luar, quase luzia. Os seus olhos, que humedecidos de ternura e ao mesmo tempo carregados de perigo, segredo e mistério, pestanejavam suavemente transmitindo uma calma divina. Ali permanecemos os dois, sentados nas raízes de um majestoso e centenário teixo, imóveis, durante o que me pareceram horas, entreolhando-nos. Estava tão confortavelmente encaixada em seus braços, tão feliz, tão completa, que deixei de ter a noção do tempo. Não trocámos qualquer tipo de palavra, não era preciso. Nada mais interessava.
Olhava as pequenas gotas, que, como cristais, lhe adornavam os cabelos rebeldes. Sentia a sua doce e acolhedora fragrância embalar-me o espírito. E assim permaneci, sucumbida, qual Odisseu cativo de sua Circe. 
Lembro-me de inspirar profundamente e sentir o cheiro da terra molhada.
A humidade fazia-se sentir veemente naquele fim de noite de Outono, mas não sentia frio ou desconforto.
Na verdade, sentia-me tão perfeitamente bem, naquela fria noite gentilmente acamada de orvalho, que o paradoxo inerente ao qual acabei por ser sujeita me levou a procurar alguma lógica face a tal contradição...
Acordei, sem querer.

2 comentários:

  1. Bela prosa poética. Narrar um pequeno sonho torna-o real, fá-lo acontecer...
    Escrever é a arte de realizar em modo puro...
    CorteVale

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  2. nop.. sem nadinha :D

    hi :)

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