quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Alice no País do Cipralex - Episódio I

E se não fosse preciso perseguir coelhos brancos, cair em profundos poços ornamentados de portas, e chaves, e candeeiros, de todos os tamanhos, cores e feitios para entrar no País das Maravilhas? E se bastasse acordar? Quereriam todos visita-lo uma vez na vida, que fosse? Todos não, não entrariam, está visto, só os dignos e os ousados e os doentes, como chamais. Mas, e se assim fosse? Serieis mais doentes que doentes, ao ponto de desejar a doença? E, que seria real? Ou, que deixaria de ser? Pouco vos importaria, já que tal estado teria prazo de validade, para vós. Mas, e que é de quem não tem essa escolha? Que é de quem está preso nessa condição e não a escolheu para uma só noite de festa? O País das Maravilhas é maravilhoso (como assim faz crer o seu nome) mas será que o é para todos? Ou será que a maravilha que dele se bebe é uma maravilha ouvida, lida e imaginada por terceiros? Pois sim, de todos que já estiveram, nunca ouvi da boca de nenhum maravilhas ou contentamento. De Má Viagem, denominam-no os que o visitaram por escolha própria. De esquizofrenia, denominam-no os que dele estão presos. De Ataques de Ansiedade e Paranóia denominam-no os que nele vão entrando, num caminho sem regresso, na maioria das vezes. O País das Maravilhas é perigoso lugar, que mais depressa nos consome, que nos felicita. Mais depressa nos tortura e engole, que nos acalma e alegra. E, o pior é a Porta de Entrada. Ela não deixa que usemos o nosso corpo, oh não. No País das Maravilhas só entra quem despe sua carcaça, só assim se cabe na Porta. Porque, no verdadeiro País das Maravilhas, não existem biscoitos, nem poções, que nos façam diminuir de tamanho. Mas, a terrível questão assola-nos: quem tomará conta do nosso corpo, enquanto não voltamos? Conseguiremos voltar? Teremos corpo para onde voltar? Essas questões são a maior agonia de quem está à Porta do País das Maravilhas. Não são as dores de morte que sentem na cabeça, como se fosse explodir; Não são as tonturas vertiginosas e insuportáveis que acompanham as dores de cabeça e que fazem ver as coisas a mudar de tamanho; Não são as sensações de desmaio e de morte eminente; Não são os enjoos e as náuseas, que arrancam gritos de dor e horror, do ventre; Não são os tremores e dores no peito que destroem. Oh, não. Todos esses nãos, são o menos. Mas, aquela sensação, em frente à Porta, do País das Maravilhas... essa sim. Como se mil negros tentáculos feitos de poeira nos arrancassem a Alma do corpo; como se descolassem a vida da carne; e a dor, a dor que isso causa. Uma dor impensável, uma dor diabólica, irreal. A dor que isso causa, é o pior de tudo.
Se oferecessem mais um biscoito a Alice, mas desta vez um que a tirasse dali para fora, ela come-lo-ia, sem hesitar. E quem diz um biscoito, diz um comprimido, ou dois, ou três. Se dissessem a Alice para tomar Cipralex e que, assim, voltaria tudo ao normal, Alice toma-lo-ia, sem hesitar. Mas será que funcionaria? Pobre Alice.

2 comentários:

  1. credo pariga. Sei que já te passaram as tonturas e isso tude, mas dá pra ler mais coisas nas entrelinhas, para lá das nauseas e dores de anseadade...

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  2. Por favor, me diga qual é a música que toca no seu blog. É Cat POwer???
    klaudio.victor@gmail.com

    Ah, ótimo blog.

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